Quando se está pensando em plantar um jardim não é difícil ouvir de alguém: “Não vai plantar bromélias, elas atraem dengue!”. E olha, sem hipocrisia, também já pensamos isso depois de ver larvinhas de mosquito (não identificadas) dentro de uma bromélia. Mas será que é isso mesmo? A ciência diz que não e vamos explicar o porquê.
Entenda como “funcionam” as bromélias
Não é necessário ser perito em plantas para perceber que as bromélias fazem parte dos nossos jardins (naturais e cultivadaos). Isso porque a ocorrência de bromélias é quase que exclusiva das Américas e o Brasil detém mais de 30% das espécies. Elas podem crescer na terra (terrícolas), em trincos de rochas (rupícolas) ou apoiadas em árvores (epífitas), podendo ter folhas dos mais variados tipos indo desde as mais robustas às mais delicadas, que, em algumas espécies, formam “copos” entre suas folhas que servem para armazenar água da chuva.
O nome técnico desses “copos” é tanque e sua função é nutrir e hidratar a bromélia. Além disso, os tanques são verdadeiros micro ecossistemas que podem servir de abrigo para vários seres vivos como insetos, aranhas, algas, rãs e pererecas. Com insetos, entende-se que mosquitos podem viver e se reproduzir nesses tanques e é aí que mora a preocupação da maioria das pessoas com o acúmulo de água nas bromélias.
O que a ciência diz
Das tantas espécies de mosquitos que podem habitar as bromélias, várias são nativas e não trazem riscos à saúde da população. E já que falamos em mosquitos, voltemos aos mosquitos da dengue. Sim, eles conseguem se reproduzir em tanques de bromélias, porém, os tanques são os locais menos preferidos.
Os mosquitos da dengue se reproduzem em locais com água limpa e parada que pode estar em pneus, calhas, caixas-d’água, garrafas, baldes, tambores e tantos outros materiais capazes de acumular água da chuva, inclusive plantas como as bromélias. O aumento nos casos de dengue em tantas cidades do país pode ser diretamente relacionado com a carência de limpeza nos centros urbanos, causada pela pouca boa vontade dos gestores das cidades e da própria população.
Porém, apesar de estar na lista de possível criadouro, existem várias pesquisas que demonstram que de tantos mosquitos que “moram” no tanque das bromélias, a minoria (bem minoria mesmo!) são mosquitos da dengue (0,007% de Aedes aegypti e 0,18% de Aedes albopictus, segundo o IOC), não sendo seu criadouro preferencial e quase isentando as bromélias de culpa. Sendo assim, os Aedes podem sim se reproduzir nos tanques das bromélias, mas os estudos mostraram que a limpeza urbana deve ser o principal foco quando o assunto é combate à dengue.
Leia mais sobre o estudo realizado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC)
Como podemos ajudar
Para acabar de vez com as chances dos mosquitos da dengue se reproduzirem em suas bromélias temos algumas soluções diferentes do uso de água sanitária ou areia, que, aliás, podem prejudicar sua planta.
Uma pesquisa realizada na USP conseguiu com que nenhuma das bromélias avaliadas fossem alvo de mosquitos da dengue depois de utilizar palha de madeira nos seus tanques. Nesse caso, a palha de madeira causa um impedimento mecânico contra os mosquitos, que não conseguem se reproduzir ali. A pesquisa foi realizada numa região com altos índices de focos de mosquitos da dengue. A parte boa é que a palha de madeira é resíduo da marcenaria e é facilmente encontrada.
Leia a pesquisa com palha de madeira aqui
Se achar difícil encontrar palha de madeira, tente fibra de coco fina que é encontrada em lojas de artigos de jardinagem. Ou então triture restos de poda mas use partículas não tão finas pra não decompor rápido demais e “perder o efeito”. Vale lembrar que tanto a palha de madeira como a fibra de coco e os restos de poda devem ser reaplicados com o tempo, mas o trabalho é mínimo e vale a pena para ficar tranquilo quanto à dengue.
Agora entendemos que não é preciso abrir mão da beleza das bromélias para se ver livre da dengue. Pode pedir pro paisagista incluir bromélias no projeto sem medo!